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EX NUNC, um romancete - 16ª Sessão

  • Foto do escritor: Algum Lucas
    Algum Lucas
  • 26 de mar. de 2020
  • 7 min de leitura

Atualizado: 21 de abr. de 2020

16ª Sessão


Boa tarde, tudo bom? Também... Sim, sim. Ah, antes de me aconchegar: aqui o cheque e aqui o texto de hoje. Bom, vamos começar, então (ou continuar, na verdade, né? Se a ideia é sair do lugar, não dá pra estar sempre começando). Preciso confessar que não consegui escrever tanto quanto queria, e também que não consegui parar de tentar falar com a Júlia. Não sei o porquê, mas sinto que um último beijo ou alguma coisa assim, meio ideal, romântica, me ajudaria a resolver as coisas, sabe?


Ah... porque eu acho que sim. Não sei se quero realmente entender isso a fundo, sabe? Ela me fazia bem, e eu tô mal, e pronto, ponto final. Só queria não me sentir mais assim, eu acho. E eu sei (assim como todo mundo sabe) que nós dois queremos coisas completamente diferentes da vida, e que ela tem tudo o que precisa pra realizar todos os sonhos que tiver (e nem falo do ponto de vista financeiro, mas do íntimo dela mesmo, sabe?), e eu... Bom, mal consigo escrever uma piada por semana. Isso sem nem sequer falar do cigarro. Às vezes eu queria conseguir ser tipo o Pai ou o Juninho, que fazem o que dá na telha sem nunca prestar contas pra ninguém. Eles não tão nem aí: na cabeça deles, são os maiorais, e quem discorda tá errado. Pronto e acabou.


Não, claro que não, eu sei o quanto isso é cagado, até porque eu sou uma das pessoas que não tá dentro da cabeça deles e que sabe o quanto eles são uns vermes imprestáveis com os quais ninguém quer ter que interagir além do necessário. Mas eu falo da segurança que eles têm. Essa certeza inabalável que têm dois caras imprestáveis, incapazes de perceber as outras pessoas como indivíduos, que não evoluíram a consciência e que nunca vão sonhar com os dentes caindo, porque a única relação que têm é com eles mesmos (achou que eu ia esquecer, né? Pois me lembrei e até achei justa a interpretação).


(Você sempre manda muito bem nessas invertidas) Pra falar a verdade, não acho que possa ter uma relação tão explícita quanto a gente gostaria, aqui, mas a óbvia é a coisa toda de cortar os laços com a Júlia e tudo o mais. Uma outra, porém, todavia, não obstante, podia ser uma coisa mais simbólica do tipo estar com medo de me desligar por completo da coisa toda da escrita e tal, acho que ambas são válidas. Mas também se nós formos considerar que me caíam todos os dentes, dá pra escolhermos um motivo por dente, que acha? (Preciso admitir que é sempre uma pequena vitória pra mim quando você ri, um pouco como "fiz essa pessoa se divertir no trabalho, mesmo ela sendo tão profissional" etc.).


Claro que sim, por que eu não acharia isso? Que outro laço eu cortei perto da semana passada pra sonhar com aquilo?


(Hm...)


Boas sugestões, não tinha pensado por esse lado. É verdade, são coisas que me dão medo (e que inclusive já disse e repeti que temo). Mas, assim, não é exatamente isso o que eu dizia quando falei que queria ter a segurança e a autoconfiança dos dois lá em casa? Porque eu já pensei muito sobre isso, e, no fim das contas, meu problema é sempre comigo mesmo. A raiz de todos os meus problemas tá em mim. E eu pensei um negócio esses dias, que queria transformar em poesia ou algo mais bonito, mas tô de saco cheio já de sempre querer fazer das coisas mais ou menos do que elas são. Eu tive essa ideia e ela é só uma ideia e não preciso que ela seja mais do que uma ideia, sabe?


Ah, eu tava pensando sobre como seria bom ter essa certeza deles e tal, ao invés de ser como eu sou e sempre ficar me perguntando se na verdade isso, se na verdade aquilo, etc. etc. A certeza é cega, e a dúvida, míope; a experiência, ao menos, é honesta. E eu tô, pelo menos, tentando, sabe? Eu reconheço que tô longe de ser perfeito, que tenho meus vícios e que preciso vencê-los (e até que, na maioria das vezes, vou fracassar por não ser ainda forte o suficiente). Mas eu continuo tentando. Pelo menos eu tenho isso. E eu sei, eu sei, também já ouvi o ditado de que de boas intenções o inferno tá cheio e blá blá blá. Só que eu não tô no inferno (ainda, talvez) e também não preciso me contentar em só ter a intenção, né?


Sim, também me surpreendi quando pensei isso comigo. Mas o duro é o que vem depois de falar tudo isso, bonitinho e tal: como? Porque, show of ball, pensei tudo isso e vou fumar um cigarro depois? Tenho várias revelações epifânicas e vou, logo em seguida, aceitar tudo isso e continuar como tava? É duro demais isso, porque aí só me resta aceitar que é tudo uma escolha e eu, na verdade, não escolhi a certa (se é que eu não optei, mesmo, por não tomar partido algum, né não?).


Eu sei e fico muito feliz mesmo quando te vejo na empolgação de costurar essas coisas com outras que já falei aqui e tal, mas, quanto mais a gente pensa, mais eu desespero por não saber outra saída senão a de aceitar que a culpa é toda minha e ponto final. Eu queria tanto que não fosse eu o motivo. Sim, e eu sei que chega um momento em que não dá mais nem pra culpar as circunstâncias ou creditar os privilégios, chega uma hora em que são as nossas escolhas que carregam a responsabilidade. Eu não me esqueci disso. Mas o que eu vou fazer com isso daí? Se eu cheguei nisso e sei que é uma questão de escolha, e que ela já tá feita, eu podia muito bem era parar de vir aqui e usar essa grana pra estocar cigarro de uma vez.


(Eu sei, desculpa pelo impulso de escrotizar tudo sempre, é que essas coisas mexem muito comigo) Eu às vezes me pego pensando "se esse velho quisesse mesmo parar de fumar, já tinha conseguido", e aí me lembro que eu também fumo e não tô conseguindo parar apesar de acreditar que quero e que tô tentando de verdade, sabe? Acho que cheguei num ponto em que era preciso eu ter mais autoestima pra conseguir seguir em frente, sabe?


Eu realmente acho. E sei que não devia. Mas você sabe e deve até se lembrar de quantas vezes eu já não falei aqui que me sentia um merda, que sou um cocô, que tenho medo que pensem que eu sou sei lá o quê, etc. etc. É foda, às vezes...


Ah... não sei... tudo. Tem dia que tudo é foda. Quanto mais eu venho aqui e me conheço, mais me sinto como se me desconhecesse. E não vejo problema em vez ou outra querer se desconhecer pra se lembrar depois, mas não é o meu caso, quanto mais me desconheço, maior o nada que me resta, sabe?... Eu queria ainda era estar escrevendo poesia. A tristeza soa tão bonita às vezes, né?


Bom, mas eu acho. Perdão se soou grosseiro, é que tô ficando meio deprimido enquanto falo aqui hoje. Ah... Se eu tivesse que dar um motivo específico, era essa coisa de sair da matrix, sabe? De repente, percebi que eu não sou quem pensava ser, e que isso afeta todos os aspectos da minha vida, porque, se não sou quem pensava ser, no fim, eu nem tenho uma vida propriamente minha, né?


É, eu sei. Perdão por esses muxoxos todos, é que enquanto te ouço e, acima de tudo, me escuto falar hoje, só consigo pensar que talvez devesse estar escrevendo uns poemas mega tristes e que, se tivesse anotado essas ideias, teria já pronto um baita dum livro premiado e tudo o mais. Mas eu sei que na verdade ia preferir arrumar algum problema que me desse vontade de fumar ao invés de ter que sentar a bunda na cadeira e fazer alguma coisa de verdade.


Ah, fazer alguma coisa tipo o merda do Pedro Couto lá. Acho que o que mais odeio nele (e nesse tipinho de gente que ele é o maior exemplo, na verdade) é que, além de ser cheio de certezas (religiosas, políticas, íntimas e afins), ele faz um monte de coisas. Fazia, ao menos (mas não deve ter parado, não, esse tipo de coisa não muda tão fácil assim). Fazer coisas no sentido literal: fazer a viagem x ou y, que eu, por exemplo, acabei não fazendo na adolescência por isso ou por aquilo. Ir lá e procurar um open mic pra me arriscar. Que mais? Ah, coisas simples tipo ligar na porra do dentista e marcar uma consulta. Fazer um abaixo assinado pra mudar a data da prova de sei lá o quê, porque no dia vai ter um show ou um jogo ou qualquer coisa que o pessoal queira ir, e "quem quer consegue" etc. etc. Eu nunca fiz esse tipo de coisa. "Vai ser na mesma hora que o jogo? Poxa, que pena, queria tanto ver..." Tô farto já dessa minha passividade, sabe? Por isso digo que sou o contrário do Pai e do Juninho: eu só vou aceitando as certezas dos outros e duvidando de tudo que me aparece sem dar valor nenhum às minhas próprias experiências... Eu sou um bundinha mesmo...


Ah, que bom que paramos por aqui. Esse papo todo hoje tá me deixando muito pra baixo. Mas talvez era bom a gente continuar, porque aí é capaz de eu ficar tão mas tão mal que me falte até vontade de fumar. Piada sem graça, eu sei. Que posso fazer? É um dom. Bom, até semana que vem. Acho que você vai gostar do texto.

Anexo: Texto que Zé trouxe à 16ª Sessão

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[Este texto teve de ser censurado por questões de direitos autorais]



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