Fábula #2 - Pletoras
- Algum Lucas
- 17 de ago. de 2021
- 1 min de leitura
Pletoras
Quimera, com sua cabeça de cabra, por mais que tentasse repetidas vezes, jamais fora capaz de sanar a fome visceral da cabeça de dragão. Com a cabeça de dragão, ainda, não conseguira nem uma vez sequer sonhar os pastos idílicos da cabeça de cabra.
Com o corpo de leão, mesmo que às vezes em meio aos leões, não fora capaz de disputar em pé de igualdade as lideranças que lhe convinham, e a cabeça de cabra saía sempre ferida ao primeiro golpe do predador adversário.
Em seus breves espasmos pelos céus, Quimera conhecera muitas criaturas aladas que lhe contaram de vias e sendas magnéticas pelas quais Quimera não pudera planar. As escamas das asas dracônicas, por mais que aero e hidrodinâmicas o suficiente para prosperar em qualquer bioma, não colaboravam com o aspecto gigantesco, para espreitar as savanas, nem confluíam com a massa colossalmente mamífera, debaixo do mar.
Com a cauda-serpente, então, buscava devorar bestas inteiras, mas não sem degustar também o sabor da culpa que suas diversas faces lhe proporcionavam. Quimera, portanto, muitas vezes passara fome. Em sua abundância, familiarizara-se com a privação. Em sua magnitude, conhecera a amplitude de tudo aquilo que lhe faltava. Tinha tudo o que precisava para ser admirada. Os ratos no buraco da parede, entretanto, tinham vidas mínimas, simples. Partilhavam suas parcas migalhas de pão e uma imensa alegria de viver.
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Algum Lucas.
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