Minha prece - Um poema
- Algum Lucas
- 19 de jul. de 2023
- 1 min de leitura
Minha prece
Deus, por favor olha pro lado,
que os teus filhos sofrem no pecado
que é saber-se mancha
do teu mundo imaculado.
Deus, por favor olha pro lado,
que o teu reino é maltratado
por quem perdeu a esperança
e luta para saciar a fome, desesperado.
Deus, por favor olha pro lado
em que os teus súditos pastam como gado
nas dores dos que lutam de dia
e passam a noite acordados.
Deus, por favor olha pro lado,
que o teu nome evoca já o arruinado
pasto em que o rebanho se lança a,
com o perdão da palavra, manter todo cagado.
Deus, por favor olha pro lado,
que os teus Jós tão atrás de advogado,
e os teus Noés deixam de herança
só hectares vazios e valor de mercado.
Deus, por favor olha pro lado
e cria um espaço em que eu pudesse ter acreditado,
ao menos quando era criança,
que o meu lugar no mundo era outorgado.
Deus, por favor olha pro lado,
que já não tem lugar teu mau olhado
num universo que o olhar do outro dispensa
— onde ou estou certo eu, ou é ele quem está errado.
Deus, por favor olha pro lado
ou aceita a minha oferenda de olhos fechados,
que eu não tive muito pra trazer de lembrança
nem tenho o tempo de fazer caprichado.
Deus, por favor olha pro lado,
que é o teu Adão agora calejado
a fazer com as costelas da Eva a sentença
dos Caims sem Abel que têm procriado.
Deus, por favor olha pro lado,
que os teus filhos sofrem no pecado
que é saber-se mancha
no teu mundo imaculado.
Por favor, deus.
Amém.
Algum Lucas
Você já pensou em publicar um livro?
Cara, eu compraria.
E acho que não seria a única.
MUITO BOM!
Cheguei aqui pelo seu canal do YouTube. Que bom que encontrei.
Obrigada pela recomendação. Boa sorte com o seu trabalho.
Bom dia, eu vi seu vídeo sobre poesia e depois de muito tempo só ouvindo poesia cantada(Chico Buarque) e repetindo os mesmo versos do Manuel Bandeiro eu resolvi me arriscar a ler coisas novas e comecei aqui. Lendo Canícula e Etnografia pelo seu corpo eu senti aquela beleza das palavras que eu fazia muito tempo considerava subjetiva demais para eu apreciar, e ainda acho um pouco; mas também reavivou em mim aquele sentimento estético que a gente percebe quando começa a escrever poesia que acredito ser a primeira e última forma de expressão. É um trabalho muito bom, o seu e de os autores contemporâneos porque aproxima a poesia da vida das pessoas, deixando esta de ser uma coisa do…